Ainor Loterio - Cursos, Palestras e Treinamentos

De casa para o Mundo

História marcante de vida!

“Não se trata de enaltecer o que não é, nem de inventar formação e referências para quem não tem! Conheço Ainor Lotério desde a sua infância e tenho orgulho de ser seu amigo. Esse foi forjado na luta! Vocês vão se encantar coma história dele!” (Acir Leonço Martins, agricultor). 

Ainor Lotério  é o segundo filho de uma família de agricultores de 11 filhos, o que nos ensinou a dividir o pão, o quarto, os brinquedos, o banheiro (naquela época uma grande banheira de madeira) com os irmãos e a praticar cooperação.
Uma lição que nunca esqueci: Meu pai trouxe 4 balas para casa e foi dividir entre os filhos sobre a mesa. Ele e minha mãe se sentaram e dividiram as balas com uma faca. Repartiram entre os filhos, dando um pedaço maior para um, dois ou três pedacinhos para outro e, no final, meu pai raspou os farelinhos da mesa em sua mão, fazendo uma sucção com a boca do restinho e se saboreou com aquilo. A mesa era limpa demais, pois minha mãe sempre a “areava” (uma expressão campesina utilizada para denominar a prática da limpeza, pois se utilizava areia para uma limpeza mais profunda).
Meus pais sempre formam muito generosos e abertos ao novo, mas levavam os filhos com firmeza, deixando várias lições de vida.  

 

Meu pai fora adestrador de bois e cavalos (ofício que também nos ensinou), habilidade que herdou de seu pai e sempre nos dizia, referindo- se a limites que “com rédea curta o cavalo marcha melhor!”

 

Algumas regrinhas práticas sobre comportamento e limites que meus pais usavam para todos os filhos:
1. O mais novo sempre tinha que obedecer ao mais velho, até que esse tomasse seu rumo.
2. Tanto meu pai quando minha mãe deixavam passar apenas travessuras e desobediências leves, fazendo que conta que não viam.
3. Não contavam tempo para pegar na “tia cinta” ou a dolorida varinha, caso desobedecêssemos, o que nos dava a certeza da punição
4. Quem tentasse escapar na hora apanhava o dobro depois, além de ter que levar a cinta ou uma varinha em mãos, para apanhar com ela.
Às vezes, houve exageros, mas eu nunca tive problemas com isso. Acho que foi mais importante para eu ter apanhado “um pouco mais da conta, do que menos da conta”.  Uma vez apanhei sem culpa e quando meu pai descobriu falou assim: “Não tem problema, vale para a próxima vez que precisares!” e, às vezes, até sem culpa, do que não sofrido nenhuma repreenda e ter se criado com problemas (não desejo polemizar, mas apenas referir a mim mesmo).
5. Quando a numerosa família estava à mesa para as refeições, algumas regrinhas eram seguidas:
-“Sentar direito e comer com a boca fechada”;
-“Primeiro devem se servir os mais velhos, para depois os mais novos!”;
-Papai sentava-se à ponta da longa mesa, e começava a se servir assim que o último se sentasse;
-quando alguém passava da conta na hora de pôr a comida no prato, a mãe ou o pai diziam “lembra que tem mais gente na mesa!”;
6. Todos deviam dormir e acordar cedo, trabalhando do amanhecer ao anoitecer, de segunda a sábado até o meio dia, quando se tirava o trato para os animais.
7. Dias de chuva eram mais folgados, mas aproveitados para limpeza de galpões, cuidado com ferramentas, máquinas e equipamentos e debulhar milho à mão. A lembrança positiva deles é que quando chovia também à noite era uma delícia dormir na campa de palha, ao som da chuva forte no telhado.
Seu pai, Auri Fábio Lotério, foi um agricultor inovador que implantou a primeira lavoura de “milho na técnica” da sua comunidade. Homem envolvido com sua comunidade, ajudou a construir a capela, o salão de festa, o campo de futebol, a escola e demais estruturas da sua comunidade. Participava ativamente e liderava a formação de associações, sindicatos, cooperativas, grupos políticas. Era um agricultor inovador em termos de novas tecnologias. Por inúmeras vezes sua propriedade foi utilizada para experimentos e lavouras que serviam de modelo para outros agricultores.
Sua mãe, Erica Laurentino Lotério, uma mulher de fé e mãe exemplar teve 7 filhos e 4 filhas, sendo 10 partos naturais.  Como sempre teve um filho por parto, por 99 meses em seu ventre (quase 8 anos e meio) e por toda a vida em seu zelo, sua mente e seu coração. 
As vezes, ela trabalhava de manhã e tinha o filho em casa de parto natural à noite. Em poucos dias já estava de pé e em seguida na lavoura novamente.
Muito trabalhadora, nunca teve uma empregada, fazendo ela mesma a comida, a limpeza da casa, a costura e a lavação da roupa de todos.
Muitas vezes ela fazia serão, trabalhando até tarde da noite para dar conta de tudo, pois o dinheiro era curto e ainda tinha que remendar as roupas velhas, economizando  tudo o que fosse possível para alimentar, vestir e educar os 11 filhos.
Viveu sempre de maneira honesta e simples, num ambiente rural de silencia, trabalho e diversão natural, recebendo conselhos e formação rígida tanto em casa quanto na escola.
Algumas expressões educativas, repetidamente pronunciadas por seus pais, o marcaram positivamente:
-referindo-se a pobreza e riqueza: “Ser pobre não era defeito, mas o defeito era ser relaxado (que não tem cuidados)”.
-referindo-se a malandragem e seriedade: “Não gosto de picareta e velhaco. Um homem tem que ser sério!”;
-referindo à palavra empenhada: “O homem tem que honrar a calça que veste!”;
-referindo-se à mudanças (e globalização, sem saber que um dia falaríamos nisso): “Eta  mundão sem porteira; o mundo é uma bola, tanto gira como rola!”
-sobre lutar com fé: “Deus é grande e Nossa Senhora é uma baita!”
-referindo-se à perda de tempo: “Não fiquem jogando em bares e bebendo; voltem pra casa cedo!”
Outro procedimento de unidade era esse: 

 

Sua alimentação foi natural, diversificada e à vontade, criando-se sem tomar remédios, pois sua mãe é ainda hoje uma excelente “chaseira”, que entende quase tudo de plantas medicinais e alimentação natural. 
Comeu pão de milho com banha, batata doce assada, batatinha com cebola, pamonha de milho verde e canjica de milho crioulo.
Bebeu água natural da fonte e ingeriu leite natural ordenhado diretamente da vaca, às vezes antes do próprio bezerro. Muitas vezes saboreou com seus irmãos um preparado chamado de “croste” . Sua mãe aproveitava o primeiro leite, o colostro, assim que a vaca paria (disputávamos o primeiro leite com o bezerro recém-nascido). Ela já sabia que o colostrum ou colostro protegia de possíveis doenças, pois da mesma forma amamentou seus 11 filhos.
Trabalhou na roça com os pais e irmãos dos 5 aos 17 anos de idade: puxando cavalos e bois por entre as leiras de lavouras, varrendo o terreiro entre a casa e as estufas de fumo e galpões, lavrando terras, abrindo sulcos, adubando, semeando (e plantando) os mais diversos tipos de lavouras, alimentando, zelando, abatendo animais para o consumo familiar e vendendo o excedente para as despesas da família, além de fazer todos demais serviços que uma propriedade agrícola exige.
Muitas vezes auxiliou sua mãe nos trabalhos domésticos
Além do trabalho normal nas lavouras e criações da família, também exerceu a profissão de tratorista (hoje chamado operador de máquinas), profissão ensinada por seu pai Auri Lotério, a partir dos 12 anos de idade.  até os 17 anos nas lavouras de milho, feijão, arroz sequeiro, batatinha e fumo, entre outras>
Foi acostumado a levantar no cantar do calo e no dormir das galinhas, para tratar os animais, preparar os equipamentos, atrelar os cavalos ou cangas os bois e ir para a roça.
Iniciou seus estudos na Escola Rural de Antas Gordas, Vidal Ramos-SC.
Era uma escola multisseriada, onde teve uma única professora  nos 4 anos do Primário, Maria Montibeller. Uma mulher com apenas a 4ª sério do primário (naquele tempo), mas que ensinava com zelo e firmeza.
Da minha primeira escolinha do interior tirou uma lição de vida muito importante: convivência com colegas de saberes e idades diferentes convivendo na mesma sala. Por muitas vezes foi “professor” dos mais novos, quando a professora dividia o quadro negro em 4 partes e passava o conteúdo por sério e dizia: “Quem dos mais adiantados quer se levantar e ir ensinando os mais pequenos?”. Assim que chegou à terceira série, Ainor já começou a ensinar os colegas naquilo que sabia.
Sempre esteve envolvido com esporte em sua comunidade rural de campestre, jogando pelo Clube Três Estrelas, que participava de torneios e campeonatos comunitários, municipais e intermunicipais.
A batalha para estudar – poeira e sol, chuva e lama, frio e calor.
Agricultores costumavam ter muitos filhos naquele tempo para trabalharem na roça. O curso máximo que muitos faziam era até a 4ª série, depois era só trabalho, agricultor não precisava.
Forçado a parar os estudos devido aos trabalhos no campo e a grande dificuldade de deslocamento, nunca desistiu da idéia.  Lembra-se dum forte vendaval em que seu pai foi buscá-lo no caminho e disse: “É muito perigoso com trovoada nessas estradas. Fica em casa com o pai!”.
Animado por seu irmão mais velho, Ainor Lotério (que saiu da roça ainda criança por ser asmático – a quem homenageou o nome de um colégio), estimulado por sua mãe e apoiado por seu pai, retorna à escola dois anos mais tarde. 

 

Como ingressou atrasado e tinha que trabalhar muito na lavoura, logo foi obrigado a desistir. Vem sempre em sua lembrança a imagem dele e sua mãe numa charrete,  com a caixa cheia de velhos livros, rumo ao colégio. 
No ano seguinte retorna ao mesmo colégio. A diretora da escola lhe matriculou, mas disse sorrindo que aqueles livros não serviam. Como retornara atrasado novamente, pedia emprestados os cadernos do seu amigo e vizinho, Acir Leonço Martins, e sua mãe o ajudava a copiar as matérias atrasadas.
E a batalha para estudar continuava, agora tendo que se deslocar a pé, a cavalo, de trator e com uma velha caminhoneta.  A estradinha rural era sinuosa e cheia de subidas e decidas, empoeirada e barrenta. Nos dias de chuva eram 20 km de lama e nos dias de sol 20 km de poeira.  
A primeira grande responsabilidade sua foi aos 14 anos, quando levava diariamente 14 adolescentes, filhos e filhas de agricultores, com a velha caminhonete de seu pai, por estradas empoeiradas, cheias de decidas, curvas e descidas, para cursar o ginásio na Escola Básica Frei Manoel Philippi, em Imbuia-SC.
Conclui o curso Ginasial aos 17 anos de idade como aluno-destaque:
-reconhecido como declamador (fez sucesso com a poesia (declamava entre outras, a longa poesia “A Morte do Cão”, conhecida também como “Gelert, o Cão”);
-escolhido o orador da turma e antes da formatura recebeu a notícia de seu irmão, que havia se formado naquele ano, de que passara no exame de seleção para o disputado e pioneiro Colégio Agrícola de Camboriú;
-responsável por facilitar o deslocamento de dezenas de filhos e filhas de agricultores, que muitas vezes não podiam ajudar nas despesas da velha camioneta, que seu pai tão gentilmente sedia.
Continua a saga dos estudos e a participação comunitária – segue em frente num colégio interno, participando da sociedade.
Mais uma vez orientado por seu irmão Ailor, vai cursar o técnico em agropecuária, um curso profissionalizante do então Colégio Agrícola de Camboriú.
Nesse período de internado foi operador de máquina e monitor no setor de mecânica agrícola, tendo auxiliado seus colegas nas aulas práticas dessa cadeira.
Foi escolhido para ser aluno monitor no Escritório da ACARESC/EMATER-SC-Associação de Crédito e Assistência Técnica e Extensão Rural/Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de SC), assistindo famílias agricultoras de Camboriú-SC.
Sua experiência em cooperativista que nasceu em sua família (o pai foi sócio fundador da Cravil-Cooperativa Regional Agropecuária de Rio do Sul-SC) é solidificada: foi Diretor Tesoureiro da CACAC-Cooperativa dos Alunos do Colégio Agrícola de Camboriú, oportunidade em que fez os cursos de Iniciação e Aperfeiçoamento em Cooperativismo.
Forma-se e recebe o Prêmio Prof. Daniel Carlos Weingartner de melhor aluno em agricultura.
Antes de se formar, em função da sua participação semanal nos eventos da igreja católica e do grupo de jovens, teve a felicidade de conhecer sua esposa atual, Ana Maria Rebelo, filha de uma família também exemplar e um pouco menos numerosa, 10 filhos.